Como ensinar matemática usando metodologias ativas

Publicado em 10/12/2021 por Luzia Kikuchi

Muita gente já tem as seguintes frases prontas, quando se fala da disciplina de matemática da escola:

“Matemática é só para gênios”

“Eu nunca precisei usar Bhaskara no meu dia a dia”

“Matemática é só decoreba de fórmulas e regrinhas”

Infelizmente, parte dessas frases acabam retratando a realidade de muitas escolas. Embora existam pesquisas desde a década de 80 falando sobre a importância de uma aprendizagem mais significativa e menos expositiva e passiva, há um grande distanciamento entre essas pesquisas e a prática efetiva na sala de aula.

Por que isso acontece?

Apesar de 40 anos parecer muita coisa, em áreas como a medicina por exemplo, são mais de 200 anos colocando a investigação científica como um princípio para nortear suas decisões e aplicações. Ou seja, tomando uma dessas áreas como parâmetro, pesquisas aplicadas à área específica de Educação ainda são muito recentes. Sem levar em conta que o próprio contexto de acesso democrático à Educação Básica também é algo muito recente, principalmente, no Brasil, como abordei em um post anterior.

E, com esse novo desafio, naturalmente, a escola passou a ter que se preocupar com uma multiplicidade de fatores como: diferentes condições socioeconômicas que podem favorecer ou não a aprendizagem, necessidades especiais (tanto físicas quanto cognitivas) e um ambiente cada vez mais complexo e desafiador de se viver com a expansão dos recursos tecnológicos, por exemplo, que exige uma constante atualização de conhecimentos.

Dessa forma, a escola não pode ser mais um ambiente de “depósito” de conhecimentos e, no lugar, deve passar a ser onde os estudantes encontram um espaço para dialogar, desenvolver o senso crítico, raciocínio lógico e senso de coletividade que são essenciais para poder exercer sua cidadania de forma mais plena e também de expressar suas habilidades no ambiente de trabalho.

Para isso, vem sendo desenvolvido há algum tempo na área de Educação as metodologias ativas, que incentivam justamente o desenvolvimento dessas habilidades nos estudantes.

O que são metodologias ativas?

A ideia central das metodologias ativas é colocar o estudante como o centro do processo de aprendizagem. Nesse caso, o aluno deve agir de forma proativa com as atividades propostas em sala de aula e o professor deve ser apenas o mediador delas. Mediar, nesse caso, significa orientar no processo de construção do conhecimento, a partir da atividade proposta, e acompanhar o estudante fornecendo feedbacks constantes ou formas para que o estudante avalie o seu próprio progresso.

E, para que o estudante possa assumir essa posição mais ativa na aprendizagem, torna-se essencial para o professor conhecer e utilizar alguns métodos e técnicas que propiciem essa ação.

Para quem quiser saber mais sobre alguns autores que propuseram as metodologias ativas, existe um ensaio escrito por Mota e Werner da Rosa (2018), publicada na revista Espaço Pedagógico.

Em um post publicado em dezembro de 2020, dei alguns exemplos de metodologias que ajudam a tornar a aprendizagem menos passiva e menos conteudista e mais baseada na experiência do aluno. Alguns deles são a aprendizagem baseada em projetos ou PBL (Problem Based Learning), a modelagem matemática, a resolução de problemas e investigações matemáticas. Todos esses métodos fazem parte das metodologias ativas e podem ser utilizadas de acordo com a especificidade do conteúdo que você quer ensinar ao aluno.

Um princípio fundamental para as metodologias ativas: metacognição

Para que as metodologias ativas possam ser efetivas no aprendizado do aluno, é fundamental que ele desenvolva a metacognição.

Como já falei repetidamente em alguns posts deste blog, a metacognição é a capacidade de avaliar qual é a melhor forma de aprender um determinado conteúdo. Isso inclui o planejamento e organização de uma ação até partir para a execução.

Porém, a metacognição só pode ser estimulada se você tiver um número suficiente de conhecimentos prévios. Isso é apresentado em diversos estudos de cognição e abordado no livro de Daniel Willingham, que abordei no post falando sobre como desenvolver o pensamento crítico.

Então, para aquele aluno que não tem pré-requisitos suficientes para compreender certos conceitos, existem dois possíveis caminhos: a de procurar ajuda com os colegas ou recorrer ao professor. Se o aluno optar pela segunda possibilidade, o ideal é que não se dê a resposta pronta. Insira perguntas que faça com que ele se questione em como buscar esses conhecimentos faltantes.

Exemplos de perguntas a se fazer para o estudante:

  • Onde você poderia procurar?
  • O que você pensou ao fazer isso?
  • Até onde conseguiu chegar até o momento?
  • Como você resolveria esse problema só com tais recursos?
  • Por que você adotou este caminho?

Essa forma de estimular o pensamento crítico e o raciocínio lógico foi um dos primeiros posts que escrevi neste blog com o título “Não responda perguntas – ajude a elaborar dúvidas”. Sei que é muito tentador não responder, quando se sabe a resposta. Mas, para o bem do aprendiz, o melhor é que ele investigue por si para chegar as próprias conclusões. É uma atitude que exige certo treino também… rs

Contudo, para exemplificar e ajudar os professores a colocarem as metodologias ativas em prática, neste post vou apresentar uma sugestão de sequência didática que já apliquei com meus alunos, para ensinar geometria para as crianças dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Abaixo deixarei também alguns links para os materiais de apoio que você pode usar para aplicar a atividade.

SEQUÊNCIA DIDÁTICA – INTRODUÇÃO ÀS FORMAS GEOMÉTRICAS

MODELO DE ATIVIDADE – VERSÃO ALUNO

No vídeo, que estará disponível a partir das 21h, você pode conferir uma parte da sequência didática e algumas observações que fiz durante a aplicação dessas atividades com os meus alunos no passado.

Uma coisa importante: não desanime se a primeira aplicação da atividade não sair como esperado. Assim como os alunos, os professores também precisam de um tempo de adaptação e aprendizagem para novos tipos de abordagem. O importante é pensar o que não deu muito certo e ir melhorando a sua atividade para uma próxima oportunidade, até chegar no seu próprio método.

Não há duas aulas iguais. Lembre-se disso! 😊

Conte para mim nos comentários, se você já usa as metodologias ativas na sala de aula ou quais dificuldades que têm para implementá-la.