Como deixar de procrastinar? O método se/então

Eu já falei em alguns posts anteriores, como manter a motivação nos estudos, como fazer uma agenda de organização e sobre o método pomodoro adaptado para aprender a ter foco. No entanto, mesmo a pessoa que vos fala aqui, que sabe e pratica a todo momento essas dicas, também sofre de momentos de procrastinação. Então fui pesquisar o que as pesquisas em psicologia comportamental ou social têm a dizer sobre o assunto.

Publicado em 24/07/2020 por Luzia Kikuchi

Que atire a primeira pedra quem não deixou alguma tarefa para depois em algum momento de sua vida.

Eu já falei, em alguns posts anteriores, como manter a motivação nos estudos, como fazer uma agenda de organização e sobre o método pomodoro adaptado para aprender a ter foco. No entanto, mesmo a pessoa que vos fala aqui, que sabe e pratica a todo momento essas dicas, também sofre de momentos de procrastinação. Então fui pesquisar o que as pesquisas em psicologia comportamental ou social têm a dizer sobre o assunto.

Tentei procurar inicialmente um artigo que envolvesse a questão da “procrastinação” e a sua relação com a “aprendizagem”. Nessa busca encontrei uma revisão sistemática de literatura feita por Correia e Moura Júnior (2017) que, embora não trabalhem diretamente na área de Psicologia, fizeram um levantamento sistemático interessante dos trabalhos publicados de 2005 a 2015, pesquisados através do portal de periódicos da CAPES.

Segundo dados levantados por esse artigo, há algumas características em comum entre os indivíduos que não procrastinam:

  1. Adotam objetivos desafiadores de aprendizagem (HOWELL e WATSON, 2007);
  2. Escolhem regular a aprendizagem entre momentos de procrastinação e estado de flow* (KIM e SEO, 2013);
  3. Indivíduos com alto estado de consciência ou moral e que usam estratégias de autorregulação para evitar a procrastinação (WATSON, 2001).

*flow ou fluxo é um termo usado pelo psicólogo Csikszentmihalyi para definir um estado de alta concentração de um indivíduo para realizar uma determinada tarefa. É um estado muito descrito pelas pessoas como “fiquei tão concentrado(a) nessa tarefa que o tempo passou e nem percebi”.

Além disso, o tipo de valor social e cultural também está diretamente ligado ao fato de uma pessoa procrastinar ou não. Por exemplo, na questão social, pessoas que têm um baixo índice de pertencimento a um grupo tendem mais a procrastinar. Já na questão cultural, existem os valores modernos e os pós-modernos. Quem valoriza o aspecto pós-moderno, que é a tolerância, apreciação de contatos sociais e autorrealização, tende também a procrastinar mais.

Lembrando que essa análise está sendo feita sob o ponto de vista da procrastinação acadêmica, ou seja, deixar de estudar um conteúdo mais difícil ou deixar de escrever seus textos acadêmicos como artigos, dissertações e teses, no caso de pós-graduandos, por exemplo.

Dentro da perspectiva social e cognitiva, pelo menos no ambiente acadêmico, também é levantada a falta de suporte no ambiente de aprendizagem. É muito comum que acadêmicos sofram de estresse, ansiedade, exaustão, além do perfeccionismo exacerbado. Porém, raramente há um suporte emocional nas universidades para que esses indivíduos possam lidar melhor com esses sofrimentos. Além disso, no ambiente acadêmico, a demonstração desses tipos de dificuldades ainda é vista como um tabu e sinalização de fraqueza moral, o que corrobora ainda mais para o ciclo de aflição dos estudantes.

Mas, parece que há algumas estratégias para tentar diminuir o processo de procrastinação, de acordo com uma pesquisa feita por Gollwitzer e Sheeran (2006) na qual eles compararam o índice de sucesso para completar uma tarefa de uma pessoa que implementa o método se/então ou aquela que coloca apenas uma meta genérica.

A grande diferença entre o método da implementação e o objetivo genérico é que, no primeiro, o indivíduo consegue observar o passo a passo necessário para chegar a um objetivo final. Desse modo, quanto mais meticuloso na elaboração de todos os se/então para chegar no seu objetivo, menos chances de procrastinar. Isso se explica pelo fato do indivíduo saber a complexidade de cada passo da tarefa e avaliar todos os níveis de dificuldade que deverão ser enfrentados e assim ser capaz de estipular com mais clareza o tempo necessário para atingir o objetivo final.

Já no caso do objetivo genérico, o grande problema dele seria a imprecisão de prever os passos necessários para atingi-lo. Dessa forma, ao notar que há mais dificuldades do que as inicialmente previstas, há uma tendência a procrastinação que pode gerar em dois resultados: um trabalho feito de forma medíocre ou a desistência.

Em posts passados, já comentei sobre a falácia do planejamento, apresentado no livro do Kahneman e também do esforço cognitivo necessário para o cérebro manter-se concentrado em tarefas desafiadoras. Assim, o que apresento nas dicas a seguir é como se fosse um reforço dessas ideias, mas complementando com uma nova metodologia.

1º passo: Como?

Neste passo, você deve pensar nos passos necessários para atingir o seu objetivo. A dica fundamental é formar várias sentenças curtas que definem cada passo.

Por exemplo, se a minha meta é publicar um artigo científico, poderia enumerar algumas atividades relacionadas a isso a partir da pergunta: “Como vou publicar um artigo científico?”

  1. Definir um trabalho que quero apresentar;
  2. Definir onde quero publicar: congresso ou revista;
  3. Definir como é a estrutura de um artigo científico;
  4. Listar as referências que preciso utilizar;
  5. Definir quanto eu consigo escrever por dia.

Esses são os meus passos, pode ser que você precise de mais ou de menos, de acordo com a sua experiência. Por isso, é importante que cada pessoa elabore o seu plano. Não adianta copiar o plano de outra pessoa, pois isso é um caminho certo para a procrastinação.

Agora, vamos passar para o segundo passo para realizar cada uma das atividades enumeradas anteriormente.

2º passo: Onde?

Para cada atividade que mencionei no passo anterior, existe alguma necessidade de procurar a informação adequada. Então, vamos responder cada uma delas indicando onde vou fazer isso.

  1. Onde eu defino o trabalho que quero apresentar? 

Resposta: Meus arquivos.

  1. Onde quero publicar: congresso ou revista?

Resposta: Procurar os eventos no site da SBEM ou no Qualis Periódicos.

  1. Onde encontrar como é a estrutura de um artigo científico?

Resposta: Aqui no meu blog! (rs)

  1. Onde listar as referências que preciso utilizar?

Resposta: Fazer um levantamento bibliográfico ou a partir uma revisão sistemática no Periódicos da Capes ou no DOAJ.

  1. Onde defino quanto eu consigo escrever por dia?

Resposta: Posso olhar para a minha agenda e ver quais dias e horários tenho disponíveis para adequar o volume de trabalho que tenho que fazer para me dedicar ao artigo.

3º passo: Quando?

Depois de responder o “Como” e “Onde?” temos que definir quando vamos fazer cada um dos itens do passo anterior.

Veja que aqui depende muito da disponibilidade de cada pessoa. Então, vou colocar o tempo baseado na experiência que eu tenho para realizar essas tarefas mencionadas para você ter apenas uma ideia. Vá ajustando conforme necessário.

  1. Consultar os meus arquivos.

Tempo necessário: Um dia* ou menos.

  1. Procurar os eventos no site da SBEM ou no Qualis Periódicos.

Tempo necessário: Um a dois dias (dependendo da quantidade que preciso analisar)

  1. Ler no meu blog a estrutura principal de um artigo científico.

Tempo necessário: Uma hora (consultar e tentar compreender a estrutura principal).

  1. Fazer um levantamento bibliográfico ou partir uma revisão sistemática no Periódicos da Capes ou no DOAJ.

Tempo necessário: Três dias se for um levantamento geral e uma semana se for uma revisão sistemática com leitura só dos resumos.

  1. Definir a minha agenda e ver quais dias e horários tenho disponíveis para adequar o volume de trabalho que tenho que fazer para me dedicar ao artigo.

Tempo necessário: Uma hora a duas.

* A definição para um dia de trabalho seria de um horário comercial: 8 horas com pausas pequenas para lanche e ir ao banheiro. Então para uma semana de trabalho, seriam 8 horas multiplicadas por 7 dias. Aqui fica a seu critério se considera os finais de semana.

E a estratégia chave para você poder elaborar cada passo é sempre fazer a pergunta: “Se ….. então ….”. Isso facilita o encadeamento lógico das suas ideias.

No vídeo a seguir, apresentei essas dicas de forma resumida utilizando um exemplo não acadêmico. Compartilhe com alguém que esteja precisando!

E para ajudar na organização, fiz um plano de objetivos para você apenas preencher com as dicas que dei aqui.

Para finalizar, achei interessante que as dicas apresentadas pela Nathalia Arcuri sobre “Os 5 Qs do consumo consciente” no seu livro “Me Poupe! 10 passos para nunca mais faltar dinheiro no seu bolso” é bem similar a este método. Isso significa que as dicas para evitar o gasto por impulso também podem ser aplicadas para cumprir objetivos de forma satisfatória.

Eu espero que essas dicas te ajudem a ser mais bem-sucedido ou sucedida em suas tarefas!