Como evitar o plágio no seu trabalho acadêmico?

Publicado em 23/10/2020 por Luzia Kikuchi

Talvez você já tenha ouvido falar sobre algumas discussões sobre plágio no meio artístico, principalmente, no meio musical com acusações de que um artista x copiou o artista y e não está pagando devidamente os direitos autorais, entre outras.

No meio artístico, a consequência mais imediata da constatação de um plágio é o autor tentar reivindicar os seus direitos autorais entrando com um processo na justiça. E isso pode custar uma boa dor de cabeça emocional quanto financeira.

No YouTube, por exemplo, a constatação de um possível plágio e a reinvindicação de direitos autorais pode acontecer de duas formas: 

  1. Abrindo um chamado (ou, nos termos do YouTube, aplicar um strike) no qual o criador de conteúdo, que possivelmente usou o conteúdo sem autorização prévia, pode ter o seu vídeo bloqueado para transmissão na plataforma até que o suposto autor, detentor dos direitos autorais, e o criador de conteúdo entrem em um acordo. Dependendo do número de strikes, o canal pode até ser desativado da plataforma, como ocorreu recentemente com um famoso canal de entretenimento chamado “Rato Borrachudo”, que gerou uma comoção na internet. Felizmente, os dois criadores, tanto aquele que sinalizou com o strike quanto o dono do canal Rato Borrachudo, entraram em um acordo e o canal continuou no ar.
  2. Outra opção é o autor do conteúdo aplicar um chamado de “reinvindicação de direitos autorais”. Nesse caso, o criador que postou o suposto conteúdo protegido por direitos autorais fica impedido de ter os ganhos de monetização com esse vídeo em seu canal e todos os ganhos serão totalmente revertidos em prol do criador original do conteúdo. A vantagem nesse caso é que o vídeo continua no ar e o seu canal não corre o risco de ser excluído da plataforma.

Embora existam muitas controvérsias em relação à forma que o YouTube permite a aplicação dessas reivindicações, principalmente, porque a legislação nos Estados Unidos (onde fica a matriz) e a brasileira compreendem de formas diferentes ao que se entende como utilização justa de material protegido por direitos autorais, na maioria dos casos, existem regras básicas que devem ser seguidas (Lei Federal Nº 9.610/98) para evitar o plágio em seus trabalhos intelectuais, industriais, etc.

E no meio acadêmico? Como ocorre o plágio?

Já no meio acadêmico, o plágio tem consequências “menos graves”, pelo menos em termos econômicos, comparado aos exemplos anteriores que citei. No entanto, em alguns casos, como uma dissertação ou uma tese, ela pode culminar em uma cassação do respectivo título obtido.

O grande problema do plágio no meio acadêmico é que muitas pessoas não têm noção do que pode ser considerado plágio ou não. Isso se agravou ainda mais com o advento da internet e do Google, que acaba facilitando a disseminação de trabalhos com cópias literais de um lugar para o outro. Quem nunca entrou em um blog ou um portal e viu um artigo completamente igual ao outro? No melhor dos casos, o criador do conteúdo referencia de onde retirou o material, mas, em outros, até se perde quem é realmente o criador original daquele texto.

Um exemplo clássico de plágio, que é pouco discutido nas escolas, é quando o professor pede para que o estudante faça uma pesquisa e escreva uma monografia sobre um determinado tema e ele simplesmente copia e cola o texto encontrado na internet, sem citar a fonte. A falta de orientação e advertência nessa fase do ensino básico acaba perpetuando a prática no ensino superior na qual os alunos copiam e colam textos encontrados na internet, sem a devida referência, e apresentam como se fossem dissertações suas. Na minha experiência com alunos de graduação, toda vez que encontrava algo desse tipo nos trabalhos dos meus alunos, sempre fiz uma ação educativa de anular o trabalho feito e solicitar a apresentação de um novo, com as devidas orientações de como fazer corretamente as citações.

Contudo, existe um outro tipo de plágio que é feito de forma inocente: reescrever as ideias de outro autor, mas sem fazer a devida citação da fonte. Esse tipo de prática é mais comum do que se imagina e muitos nem imaginam que estão cometendo uma ilegalidade nesse caso. Obviamente, em termos de gravidade, comparado com o primeiro exemplo, na qual a reprodução é feita de forma ativa, a segunda pode ter nuances. Porém, não deixa de ser grave. E é aqui que eu pretendo deixar algumas dicas para evitar esse tipo de “deslize”.

Dica 1: Sempre anote as referências completas em um documento

O processo de escrita nem sempre é linear, ainda mais quando se trata de trabalhos longos como um TCC, dissertação ou tese. Até mesmo de artigos científicos que, muitas vezes, são resultados de estudos muito longos. Normalmente, vamos escrevendo aos poucos e retomamos em dias subsequentes.

Por isso, é importante manter o registro de todas as suas referências utilizadas em um documento, para que eles sejam devidamente incorporados no final do trabalho. Além disso, quando for parafrasear a ideia de um autor, anote imediatamente, dentro dos parênteses, de onde aquele dado foi retirado, se possível, com o número da página para futura consulta.

Segundo as normas da ABNT, a citação com o número da página só é necessária quando o trecho foi retirado de forma literal. Porém, para efeitos de consulta, pelo menos enquanto estiver escrevendo o texto, é recomendável deixar anotado o número da página para saber se a ideia foi realmente reescrita ou está citada de forma literal.

No Word, pelo menos na versão 15 para Mac, existe um recurso chamado “citações” que permite a gravação das referências completas usadas em seu texto e, assim, poder ser rapidamente utilizado sem a necessidade de consultá-lo manualmente toda vez que for precisar.

Eu confesso que, pessoalmente, não utilizo esse recurso e ainda prefiro fazer manualmente, pois, ele tem a desvantagem de colocar automaticamente, no final do documento, as referências completas utilizadas. E, no caso de trabalhos muito longos, prefiro separar os capítulos por arquivo, do que ter todo texto num único documento.

Recomendo ler o capítulo 4, do livro “The Psychology of Effective Studying, pois há muitos exemplos de trechos que podem ser considerados plágios.

Dica 2: Planeje tempo suficiente para ler, escrever e revisar o seu texto

Segundo o livro “The Psychology of Effective Studying” do professor Paul Penn, da Universidade de East London, uma das principais causas do plágio acadêmico inocente é a procrastinação. Isto é, se você deixa o seu trabalho para última hora, não terá tempo suficiente para ler e anotar as referências de forma cuidadosa para serem citadas no seu texto e, depois, para revisá-lo adequadamente antes de entregá-lo.

Por isso, sempre planeje bem a prioridade de suas tarefas. Em um vídeo anterior, eu dei 5 erros mais comuns sobre produtividade e nela citei o erro número 1, que é não dar prioridade a organização. Eu mesma cometi esse erro muitos anos atrás, quando deixava os textos e as referências desorganizadas e espalhadas no meu computador ou em vários pendrives. Com isso, tinha muita dificuldade para encontrar determinado trecho de um material e aquilo acabava tornava-se inutilizado. Ou seja, para poder fazer uma revisão mais eficiente, você precisa ter o seu material organizado. Caso contrário, precisará de um tempo muito maior para revisar o seu texto.

Dica 3: Tente consultar os materiais originais

Nas normas ABNT, há um recurso que se usa a “citação da citação” que é representado pela palavra em latim apud. No entanto, esse recurso deve ser evitado na medida do possível, para que uma ideia original não seja distorcida. Não usar a citação original deve ser somente em casos que seja muito difícil encontrar a fonte original do material (ex.: materiais disponíveis apenas fisicamente, muito antigos ou em idioma inacessível, etc.).

Com essas dicas, você estará menos suscetível a cair no problema do plágio nos seus trabalhos daqui em diante.

Publicado por

Luzia Kikuchi

Uma entusiasta em neurociência, apaixonada por ensino-aprendizagem e uma eterna aprendiz de professora.

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.