Como aprender a estudar?

Estava navegando pela internet, mais precisamente em um portal chamado Psych Central (…) E entre os diversos artigos que estavam por lá, me deparei com um que chamou a minha atenção com o título: “Por que muitos acadêmicos ignoram estratégias de estudo?”.

Publicado em 07/08/2020 por Luzia Kikuchi

Estava navegando pela internet, mais precisamente em um portal chamado Psych Central que reúne diversos artigos relacionados à área de Psicologia e Saúde Mental coordenado pelo Dr. John. M. Grohol, Doutor em Psicologia, que também é fundador desse projeto há 25 anos.

E entre os diversos artigos que estavam por lá, me deparei com um que chamou a minha atenção com o título: “Por que muitos acadêmicos ignoram estratégias de estudo?” que foi baseado em uma publicação científica do periódico Frontiers in Psychology. Não é um artigo recente, trata-se de um texto postado em meados de 2018.

O artigo é bem curto, mas, em linhas gerais, eles problematizam por que poucos estudantes usam as técnicas de autorregulação dos estudos, que consiste em se testar, planejar e praticar o que aprendeu.

Segundo pesquisas, eles apontam que um dos motivos dos estudantes não aplicarem essa técnica com frequência é por imaginar que sejam muito trabalhosas ou pouco efetivas. Dessa forma, preferem continuar a estudar da forma que estão mais acostumados, mesmo não tendo resultados promissores em alguns casos. Segundo o texto, eles acreditam que essa crença poderia ser mudada se houvessem mais pesquisas evidenciando a eficácia de certos tipos de estudo.

Porém, em um dos posts deste blog, eu já havia apresentado uma extensa pesquisa liderada por Dr. John Dunlosky da Universidade de Kent, em 2013, que mostrou algumas evidências de que certas práticas populares de estudo não têm tanta eficácia para o aprendizado quanto muitos estudantes imaginam. 

Na minha visão, acredito que talvez até exista um volume considerável de pesquisas sobre técnicas mais eficazes na aprendizagem, mas ela ainda é pouco popularizada entre os estudantes e, principalmente, entre os próprios professores nas escolas e universidades.

Talvez tenha sido com esse intuito que o Professor Paul Penn, da Universidade de East London, resolveu publicar um livro que reúne diversas pesquisas na área de Psicologia Cognitiva para divulgar as técnicas mais eficazes de estudo. O livro foi lançado no início de 2020 e está disponível tanto em formato físico quanto em e-book nas livrarias como Amazon e Google Livros. Você pode conferir uma amostra nesses dois links. Achei muito interessante a iniciativa, já que ainda há uma carência nesse tipo de divulgação científica e também na formação específica para professores. As dicas que dou a seguir são inspiradas nesse livro.

Para constatar esse último fato, é simples: tente lembrar de algum professor ou professora que te ensinou “como estudar”? (Atenção: não é a mesma coisa de ensinar um conteúdo, é a técnica por si só de como absorver melhor o conhecimento.) 

Se você é um dos poucos felizardos ou uma das poucas felizardas a ter aprendido isso, sinta-se como uma pessoa privilegiada, pois eu mesma não aprendi no início. Tudo que me disseram é que o importante era se “concentrar”, sentando a “nádega na cadeira”, ler e reler a aula e, principalmente, decorar o máximo que puder de informações passadas durante a aula. No caso de exercícios, faça o maior número que puder. Quanto mais estudar, melhor. Simples assim.

Parte dessas estratégias não está totalmente errada. Porém, é irracional ou até ilusório imaginar que os estudantes terão todo o tempo do mundo para estudar todas as disciplinas do início ao fim, no menor detalhe. E o pior de tudo é que, mesmo com tanto esforço, não se resultará exatamente em bons resultados em exames, que é a parte mais triste de tudo, na minha opinião.

É possível que algumas dicas pareçam ser muito semelhantes a outras que já dei em posts anteriores, mas isso é para reforçar as ideias com outras palavras (até que você finalmente pare de perder tempo com técnicas de estudo pouco eficazes! rs).

Dica 1: Utilize a metacognição

Quando você planeja uma ação, organiza e executa de acordo com os conhecimentos que têm sobre um determinado assunto, está utilizando a metacognição. Em termos de aprendizagem, poderíamos dizer que seria a capacidade de avaliar qual seria a melhor forma de aprender um determinado conteúdo. 

Porém, isso tem um preço. Se você não tiver uma boa forma de avaliar o que exatamente sabe, de forma objetiva, pode ser “traído(a)” pela sua própria cognição. Esse efeito é conhecido como Dunning-Kruger que se resume a ter uma distorção do que realmente conhece sobre um assunto. Podemos dizer que ele é um “oposto” da síndrome do impostor que citei neste post. Uma metáfora para esses dois efeitos seria o otimista irremediável para o Dunning-Kruger e o pessimista sem saída da síndrome do impostor.

Para evitar esse tipo de padrão psicológico, que pode dar uma falsa impressão de aprendizado, segundo Paul Penn, é importante saber parafrasear um conteúdo que está aprendendo. Por exemplo, se você está lendo um texto, é importante saber explicar com suas próprias palavras o que está estudando. Para isso você pode tentar escrever um texto ou contar para alguém de forma que ela consiga entender o conteúdo a partir da sua explicação.

E por falar em texto, agora vamos para a segunda dica que é uma das mais polêmicas em relação às técnicas de estudo.

Dica 2: Ler as anotações de aula não é efetivo

Quando eu falei para você escrever um texto sobre o conteúdo que está estudando, isso significa que você deve elaborar com suas próprias palavras. Não é copiando as mesmas palavras de outra pessoa e montando um texto que mais parece uma “colcha de retalhos”.

Então, partindo desse princípio, já te digo de antemão: copiar as anotações de aula não tem nenhum efeito no aprendizado. A única coisa que parece ter mais efeito é quando você faz anotações durante a aula, mas parafraseando já com as suas ideias. Mas, leve em consideração que prestar atenção no que o professor está dizendo, tentar entendê-lo e fazer perguntas são as formas mais eficazes de aprendizagem.

Eu já disse anteriormente que também perdi anos de minha vida de estudos obcecada em deixar um caderno impecável, copiando tudo que o professor escrevia na lousa. Salvo os casos em que o professor pede explicitamente para copiá-lo, não faz muito sentido você fazer isso enquanto ele explica, pois você não vai prestar atenção e também não terá nenhum benefício das suas anotações no futuro.

Então pare de perder tempo copiando a lousa!

Dica 3: Escreva de forma direta e simples

Quando você domina um assunto, é capaz de explicar de uma forma direta e simples. Isso vale para o texto que escreve. Então, no momento que for escrever o resumo com suas próprias palavras, quanto menos “rodeios” você fizer para expressar suas ideias, melhor a sua compreensão sobre o conteúdo.

Prof. Mario Sergio Cortella, em seu livro ilustrado pelo famoso cartunista Mauricio de Sousa: “Vamos Pensar + um pouco”, que traz ideias de Filosofia para crianças, citou um trecho do escritor francês Victor Hugo (1802-1855) que resume bastante essa ideia:

“Quando não somos inteligíveis, não somos inteligentes”

Isso significa que a melhor forma de saber se uma pessoa é inteligente é quando ela se preocupa em explicar de forma que seja compreensível para a outra pessoa. Logo, Cortella nos alerta que a crença de que “falar difícil” é sinal de inteligência, não passa de uma balela. Se uma pessoa realmente é competente em algum assunto, ela deve ser capaz de explicar de diversas formas diferentes e de forma simples. Isso não é somente defendido pelo Cortella, mas também pelo físico Richard Feynman, ganhador do prêmio Nobel de Física de 1965. O teórico ficou bastante indignado com o que viu numa universidade brasileira, na década de 50, quando lecionou durante um ano em uma universidade do Rio de Janeiro. 

O depoimento de Feynman sobre o ensino de Física no Brasil é um trecho de seu livro “Deve ser brincadeira, Sr. Feynman”, publicado na década de 80. É bastante perturbador, principalmente, para quem trabalha com Educação. Se quiser ler um trecho, podem consultar neste link aqui ou também pode ler um artigo escrito pelo Prof. Ildeu de Castro Moreira da UFRJ, que fez uma retomada das colocações de Feynman e também de um panorama do que mudou ou não mudou no ensino de Física no Brasil.

Dica 4: aprenda a trabalhar em equipe

Como já diz um aforismo popular, “união faz a força”, tente tirar proveito dos estudos em grupo. Mas isso não significa apenas se juntar lado a lado e cada um se ocupar com o seu próprio material de estudo. O ideal é fazer uma avaliação por pares, ou seja, avaliar um ao outro sobre o que está estudando. 

Para que esse tipo de estudo tenha sucesso, é importante combinar com clareza quais serão os aspectos avaliados, tanto em forma de críticas quanto ao sistema de pontuação, caso houver. Isso ajuda a não criar mal-entendidos e até mesmo criar uma “saia justa” na amizade.

Dica 5: saiba fazer apresentações claras

Essa dica é muito importante para quem vai apresentar seminários ou trabalhos em congressos, TCC, etc. Se você quer saber o quanto domina sobre um determinado assunto, fazer uma apresentação sucinta e clara é uma das peças-chave para se testar.

Esse é um aspecto que eu sempre “peguei no pé” dos meus alunos que apresentavam seminários. É muito comum ver uma cópia literal de trechos de um texto utilizado como referência, quando não era um slide inteiro cheio de texto e, o pior: quando os apresentadores liam os slides e ficava de costas para a plateia… É receita certa para o público dormir durante a sua apresentação.

Quando você se apresenta, precisa contar uma história. Os slides devem ser apenas um referencial para mostrar uma palavra-chave, uma frase importante ou desenhos e diagramas. Carmine Gallo escreveu um livro chamado “Faça como o Steve Jobs”. O saudoso fundador da Apple é considerado como um dos melhores palestrantes que já existiu na área de Marketing e o livro apresenta as melhores práticas que ele usava em suas apresentações de produto de sua empresa.

Obviamente, já vi pessoas com exímias habilidades de decorar textos imensos em sua apresentação sem ter que se apoiar nos slides. Porém, o que eu notei é que, mesmo essas pessoas, escrevem um texto com suas próprias palavras. A única diferença é que, em vez de improvisar, ela consegue memorizar todas as palavras de seu texto. O que não deixa de invalidar o processo de sintetizar e elaborar o seu conhecimento.

Então, será que este texto conseguiu te convencer a estudar melhor da próxima vez? 

No vídeo eu conto essas 5 dicas com encenações bastante humoradas (eu tentei pelo menos).