Como avaliar a aprendizagem dos alunos? Parte 1

Publicado em 04/12/2020 por Luzia Kikuchi

Existem algumas crenças a respeito do quesito avaliação que eu gostaria de discutir no post de hoje. Por exemplo, alguns acreditam que a avaliação consiste majoritariamente em aplicar algumas questões relacionadas ao conteúdo ensinado e que devem ser respondidos sem consulta ao material didático. 

Obviamente, se o interesse do avaliador é saber a quantidade do conteúdo memorizado pelo sujeito, talvez essa seria uma forma válida. Como acontece em processos seletivos para as universidades, concursos públicos, etc.

Porém, se discutirmos no contexto da sala de aula, será que avaliar é apenas aplicar uma prova sem consulta? Avaliar a quantidade de conteúdo, supostamente memorizado, é sinônimo de aprendizado?

Podemos dizer que, se houve aprendizado, é natural que ocorra a memorização. Porém, o processo de memorizar conteúdos pode ocorrer tanto de maneira mecânica (ou seja, por repetição) quanto por aplicação de significados.

O problema de privilegiar apenas a avaliação sem consulta é poder induzir o estudante a reforçar a aprendizagem mecânica e não necessariamente a atribuição de significados e a compreensão dos conteúdos, que seria o ideal e que beneficiaria o conhecimento a longo prazo.

No entanto, é importante ressaltar que quando digo que o aluno deve aprender a longo prazo, não digo na visão “romântica” de que os alunos serão capazes de lembrar de todos os conteúdos de forma absoluta para o resto de sua vida. Com o tempo, é natural que alguns conteúdos se percam, e outros prevaleçam, de acordo com o próprio interesse.

Porém, se aprendemos o essencial, é mais fácil retomar alguns conceitos do que quando simplesmente memorizamos sem atribuir significados. E é nesse ponto que quero sugerir algumas formas de avaliação que poderiam ser usados em sala de aula. Por ser a minha especialidade, vou dar exemplos específicos para o ensino de Matemática. Porém, elas podem ser adaptadas para outras disciplinas de acordo com a sua especificidade.

Para não ficar muito longo, dividi este assunto em Parte 1 e Parte 2. Na próxima semana publico na sequência a próxima parte.

Uma das formas é a aprendizagem baseada em projetos ou Project Based Learning (PBL). Isso envolve um pouco a metodologia de resolução de problemas, o conceito de modelagem matemática e também de investigações matemáticas. Esse tipo de aprendizagem é particularmente interessante para avaliar o aluno de forma progressiva. Ou seja, avaliar como ele era no início e o que ele aprendeu no fim do projeto.

Por exemplo, a metodologia de resolução de problemas envolve aspectos como desafios e motivação para resolver problemas e encontrar aplicações da matemática no cotidiano. O que torna o princípio por si só da aprendizagem baseada em projetos. Quando se fala em pesquisas em Educação Matemática, no entanto, muitas pesquisas deram um enfoque inicial de resolver atividades parecidas com os dos livros didáticos, o que acaba perdendo a riqueza de se desafiar e enfrentar situações novas. Pelo menos, essa é a crítica que está no artigo de Onuchic (2013)

Já a modelagem matemática tem uma característica de encontrar uma aplicação de um conhecimento matemático para o cotidiano. Veja que, dependendo do projeto, isso pode ocorrer ou não. Enquanto a resolução de problemas tem uma característica um pouco mais abrangente, a modelagem já tem a especificidade de trabalhar a partir de um conteúdo matemático, embora as etapas sejam muito semelhantes a uma aprendizagem baseada em projetos.

E, por último, as investigações matemáticas tem uma especificidade ainda maior no conteúdo matemático. Aqui, estamos preocupados em encontrar formas criativas e inovadoras de resolver determinados problemas matemáticos, mas devemos saber aplicar as conjecturas, as hipóteses de uma forma que possa ser justificada e avaliada no final, levando em conta o rigor matemático.

Embora seja possível realizar um projeto individual, para maior eficácia da aprendizagem, seria interessante os estudantes trabalharem em grupos. Pois, como mostram os estudos que citei neste post, a discussão com seus pares, o processo cognitivo de elaborar as suas respostas e comunicar-se com clareza ajuda a compreender melhor os conceitos estudados.

Outro lado positivo desse tipo de aprendizagem é que o conteúdo a ensinar passa a ser ditado pelo projeto que os estudantes executam. Normalmente, no modelo de aula expositiva, a qual estamos habituados, os conteúdos são ensinados numa sequência pré-determinada pelo professor ou pelo material didático. No entanto, para os estudantes, a sequência nem sempre é muito clara e, muitas vezes, vazia de significado. Na aprendizagem baseada em projetos, o aluno deverá sentir a necessidade de compreender determinados conteúdos para resolver o seu problema para executar o seu projeto. E assim, torna-se um aprendizado mais significativo.

Alguns trabalhos que podem ser consultados relacionados ao assunto é o livro do professor Luis Roberto Dante: Didática da resolução de problemas de matemática, da Editora Ática, e também o artigo de Onuchic (2013). Esses trabalhos falam mais especificamente sobre resolução de problemas. Já sobre investigações matemáticas e modelagem matemática, existe um livro da coleção “Tendências em Educação Matemática”, da Editora Autêntica e outros dois livros que podem ser interessantes para quem quiser trabalhar com modelagem matemática. Um desses dois livros inclusive, pode ser baixado de forma gratuita no Kindle.

Título: Investigações Matemáticas na sala de aula
Autores: João Pedro da Ponte, Joana Brocardo e Hélia Oliveira
Editora: Autêntica (Coleção Tendências em Educação Matemática)
Crédito da imagem: www.amazon.com.br

Título: Modelagem matemática na Educação Básica
Autores: Lourdes Werle de Almeida, Karina Pessôa da Silva, Rodolfo Eduardo Vertuan
Editora: Contexto
Crédito da imagem: www.amazon.com.br

Título: Modelagem matemática: perspectivas, experiências, reflexões e teorizações
Autores: Celia Finck Brandt, Dionísio Burak e Tiago Emanuel Klüber
Editora: UEPG
Crédito da imagem: www.amazon.com.br

E para avaliar esses projetos, o professor pode separá-lo em várias etapas. Um exemplo dessa divisão é a seguir, que costumo usar em minhas avaliações:

  1. Elaboração de um pré-projeto
  2. Pesquisa e levantamento de dados
  3. Apresentação da pesquisa e levantamento de dados em formato de seminário
  4. Discussão com outros grupos
  5. Melhoria das ideias
  6. Elaboração de um relatório final
  7. Avaliação formativa: constituída tanto por um questionário aberto quanto por um questionário objetivo nos quais o aluno apresenta como avalia o próprio aprendizado durante o projeto.

No vídeo eu explico o que deve ser feito em cada uma dessas etapas.

Veja que essas subdivisões são apenas sugestões de trabalho. A complexidade e o tempo de duração pode ser regulado com a disponibilidade do calendário escolar de cada professor. Não posso afirmar que é um dos tipos de avaliações mais fáceis, mas seria uma alternativa para lidar com alunos desmotivados e que não conseguem tirar muito proveito do método de aula expositiva.

Além disso, o projeto por si só é desafiador para o professor, já que não se pode prever com exatidão os conteúdos que serão necessários para execução de cada projeto. Sempre há a opção do professor direcionar o tema da maneira que lhe for conveniente, mas, requer uma disposição do docente em aprender assuntos novos e buscar ajuda de colegas especialistas em assuntos que transcendam sua área de domínio. O que, na minha opinião, torna uma aprendizagem muito mais rica e próxima da realidade, já que, no nosso cotidiano, não somos capazes de resolver todos os problemas apenas com os conteúdos de nossa formação.

E você? O que acha da aprendizagem baseada em projetos? Já aplicou ou aplicaria? Conte aqui nos comentários!

No próximo post, falo sobre avaliação da aprendizagem por mapas conceituais. 

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