O que é inteligência e como se tornar um aluno mais inteligente?

Publicado em 22/07/2022 por Luzia Kikuchi

Quando falamos em inteligência, é muito comum se remeterem à imagem de uma pessoa usando óculos, lendo muitos livros de assuntos complexos ou avançados e com uma aparência de ser uma pessoa “desengonçada” nas habilidades físicas e sociais.

Algo parecido com esta imagem:

Homem usando óculos com gravata borboleta lendo um livro sobre a mesa.

Obviamente, isso não passa de uma “caricatura” bem antiquada, mas que, de alguma forma, ainda permanece no imaginário popular, quando se pede para descrever uma pessoa que parece inteligente.

Se você também imaginou uma pessoa como da imagem anterior, uma das hipóteses é que, na cultura em que você vive, a inteligência é medida pelos conhecimentos formais que uma pessoa possui ou a capacidade de aprender assuntos complexos.

De todo modo, parte desse entendimento é correta. Ao menos, segundo a definição do que é consenso da área de Psicologia, entende-se como inteligência a capacidade de compreender ideias complexas e saber mobilizar diferentes tipos de raciocínio para resolver problemas e, ainda, aprender com as experiências.

Aqui no Ocidente, é comum se basear em testes psicométricos para se medir a inteligência. O mais famoso deles é o teste de Q.I. (quociente intelectual) que, de alguma forma, consegue estimar a capacidade intelectual de uma pessoa em diferentes tipos de habilidades cognitivas (raciocínio viso espacial, capacidade de perceber padrões e processar informações de forma rápida e precisa).

Tais testes foram criados por pesquisadores franceses, com o intuito de desenvolver um método de recuperar os estudantes que não tivessem um bom desempenho escolar (COSENZA e GUERRA, 2011). Ou seja, o teste de Q.I. nasceu com um propósito relacionado ao contexto escolar. Então, é natural que a associação da inteligência seja à pessoa que é dedicada aos estudos.

Existem também outros testes psicométricos que complementam o Q.I. e fazem uma correlação entre a inteligência e o desempenho de um indivíduo ao longo da vida em atividades tanto profissionais quanto acadêmicas, que é chamado de fator g, ou uma inteligência geral. O que ainda não se tem clareza é de como essa inteligência geral pode se manifestar em cada indivíduo. Ou seja, duas pessoas que apresentam uma mesma pontuação de Q.I. podem manifestar habilidades bem diferentes. Não se sabe ainda o motivo disso ocorrer, mas sabe-se que essa inteligência geral pode depender de uma parte da inteligência fluida e a inteligência cristalizada.

Inteligência fluida X inteligência cristalizada.

A inteligência fluida é aquela que você herda dos seus pais geneticamente. E a cristalizada é aquela que você desenvolve ao longo da sua vida através da experiência.

Por isso, é de se esperar que, conforme você envelhece, a inteligência cristalizada, aumente por conta do acúmulo de conhecimento e de experiências. Então, podemos dizer, de uma forma geral, que os mais velhos são sábios por conta disso. O fato de terem vivido muitas experiências das quais os jovens sequer ainda passaram, são capazes de ensinar aqueles mais inexperientes.

Já a inteligência fluida seria a sua capacidade de compreender esse ambiente em sua volta e de resolver problemas. Então, dá para se imaginar que, dependendo de quanta inteligência já está depositada aí nos seus genes, você pode ter uma ligeira vantagem em relação aos outros que não nasceram com o mesmo nível que o teu. Porém, com muita persistência, aquela pessoa que não nasceu com uma “inteligência de fábrica” também seja capaz de “cristalizar” os conhecimentos e, assim, passar a ficar mais inteligente, pois adquiriu mais capacidade de resolver problemas complexos.

Infelizmente, aqui no Ocidente, valoriza-se muito a inteligência fluida que, apesar do nome, muita gente entende como se ela fosse uma característica “fixa”. Isto é, ou você nasce inteligente ou não há esperança de sucesso em sua vida. Porém, o que as pesquisas mostram é que, ao longo do tempo, a população no geral, está ficando cada vez mais inteligente. A média de pontuações dos testes de Q.I. tem aumentado consideravelmente, principalmente, nos países desenvolvidos. Ou seja, um ambiente mais complexo, com melhores condições de saúde e de vida podem contribuir para o desenvolvimento cognitivo das pessoas.

Por isso, no Japão, por exemplo, acredita-se que a inteligência seja desenvolvida também pelo meio do esforço. É muito comum que pais e professores incentivem as crianças para que se esforcem bastante e que se desafie a aprender algo novo. Isso resulta em diversos pontos positivos a longo prazo como a resiliência para resolver problemas. Como exemplo disso, sugiro que você assista a uma minissérie da Netflix chamada Crescidinhos. Ela se trata de um reality show, com crianças entre 2 a 5 anos de idade, no qual são colocadas à prova para resolverem uma tarefa para os seus pais. É incrível como muitas vezes subjugamos as habilidades de uma criança, principalmente, aqui na cultura do Ocidente.

O que torna um aluno mais inteligente?

Entendendo que a inteligência é a capacidade de resolver problemas complexos e aprender por meio da experiência, podemos dizer que, para se tornar um aluno mais inteligente, é continuar se esforçando a aprender algo novo e complexo.

Talvez, aquele seu amigo do lado possa resolver um problema mais rápido que você. Mas, você não sabe qual é o histórico dele. Pode ser que ele já tenha visto algum desafio similar antes e, por isso, saiba resolver com mais facilidade. Ou talvez tenha sido agraciado por uma inteligência e um estímulo correto durante a infância que favoreceu tais habilidades no presente. Porém, o que você não deve esquecer é que a inteligência pode ser também a “cristalizada”, ou seja, aquela que se acumula com o tempo. É o tal do conhecimento que se acumula e não se perde. O estudo é um deles e a prática é essencial para manter esse aprendizado por um tempo maior.

Lembre-se que a habilidade, sem a prática, também vai se perdendo ao longo do tempo, conforme já mostrei em dois posts anteriores quando falei da curva de esquecimento e da importância de lapidar seus conhecimentos por meio da prática constante. E outro segredinho aqui: a inteligência fluida vai caindo a medida que envelhecemos. Em contrapartida, a inteligência cristalizada só tem a crescer. Por isso, você pode ainda tirar muita vantagem através do esforço contínuo para aprender habilidades novas 😉

Se você quiser ler mais a respeito da inteligência, eu recomendo que leia o Capítulo 10 de Cosenza e Guerra (2011) e o Capítulo 8 de Willingham (2011). Suas referências completas estão aqui:

Título: Neurociência e educação – como o cérebro aprende
Autores: Ramon M. Cosenza e Leonor B. Guerra
Editora: Artmed
Crédito da imagem: www.amazon.com.br

Título: Por que os alunos não gostam da escola?
Autor: Daniel T. Willingham
Tradutor: Marcos Vinícius Martim da Silva; José Fernando Bitencourt Lomônaco
Editora: Artmed
Crédito da imagem: amazon.com.br

No vídeo, que vai ao ar às 21h no canal, eu deixo uma citação feita pelo Michael Jordan, mostrando que o esforço é determinante para o sucesso até de certas pessoas que já parecem ter nascido com uma inteligência específica.

E aí? Vamos ficar mais inteligentes? 🥰

Autor: Luzia Kikuchi

Uma entusiasta em neurociência, apaixonada por ensino-aprendizagem e uma eterna aprendiz de professora.

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