Como definir o tema de um projeto de pesquisa? Dicas para iniciantes na pesquisa

Como definir o tema de um projeto de pesquisa? Dicas para iniciantes na pesquisa

Publicado em 03/09/2021 por Luzia Kikuchi

Minha relação com a pesquisa começou em meados de 2006, quando decidi fazer uma iniciação científica. Na época, eu não fazia ideia de como escolher um tema para a pesquisa. Eu me lembro de ter procurado o professor de Metodologia de Ensino de Matemática I, no intervalo da aula, por quem eu tinha muita admiração pela sua forma de ensinar, e comentei que gostaria de desenvolver uma pesquisa de iniciação científica. O professor prontamente disse que eu poderia procurá-lo em sua sala, no dia seguinte, para podermos conversar a respeito disso.

Naquele tempo, eu não fazia ideia de como fazer uma pesquisa e, muito menos, de como fazer a busca de um tema. Já existiam ferramentas de busca como o Google, Yahoo, mas o YouTube estava apenas começando e não havia conteúdos acadêmicos “a rodo” como hoje. Não sei afirmar se já existiam acervos digitais de buscas de periódicos científicos (acredito que não), mas a minha pesquisa foi feita indo na boa e velha biblioteca física mesmo (para quem tem rinite a ácaros, como eu, era uma verdadeira tortura…). Por isso, a solução que o meu orientador encontrou, para me ajudar a chegar em um tema, foi sugerir que eu escrevesse uma pequena redação com os assuntos que eu mais tinha interesse e, a partir dele, tentar chegar em um tema para a pesquisa.

Confesso que não me lembro muito do conteúdo desse texto. Mas, tenho na memória a leve lembrança de que era algo sobre desenvolvimento de materiais manipuláveis para ajudar no ensino de Matemática.

Aqui vale fazer um parêntese que eu nunca fui uma aluna brilhante durante a graduação. Embora tenha escolhido o curso por ter afinidade com as Ciências Exatas, em especial algumas áreas da Matemática como álgebra, tinha muita dificuldade para visualizar, de forma abstrata, principalmente, conceitos e propriedades de Geometria Plana e Espacial, por exemplo. Por isso, desenvolver um material manipulável também era uma forma de atender a uma “dor” como estudante.

Fechando o parêntese, meu orientador, após ler o meu texto, sugeriu que eu fizesse uma pesquisa sobre a geometria nas embalagens. Assim, eu trabalharia tanto no estudo das formas geométricas de embalagens de certos produtos muito utilizados no cotidiano e também de abordar aspectos como sustentabilidade, reutilizando-as para desenvolver materiais de ensino.

Então esse foi o meu primeiro tema de pesquisa: estudar as formas geométricas nas embalagens de produtos e desenvolver materiais didáticos, por meio da reutilização de embalagens, que propiciem a compreensão de propriedades geométricas.

Esse tema acabou se estendendo também para o meu trabalho de conclusão de curso (TCC) e, assim, fiz um trabalho “2 em 1” (sugiro que você também faça o mesmo, caso tenha oportunidade, para otimizar o seu tempo).

Obviamente, 15 anos depois de ter passado por muitas dificuldades e aprender muitas coisas na prática, hoje fica muito fácil para apontar o que eu poderia ter feito de diferente na organização e no desenvolvimento da pesquisa. Mas, levando em consideração que o acesso à informação era muito mais restrito naquela época e que eu também sequer recebi um “tutorial” de aspectos básicos de como fazer uma pesquisa adequada de referências, materiais e de como fazer um experimento com “começo, meio e fim”, acho que foi o melhor que eu pude fazer. Meu orientador, embora tenha sido muito solícito em boa parte do tempo, não foi capaz de me explicar, em detalhes, de como desenvolver um projeto e o passo a passo de uma pesquisa, pois era uma pessoa muito ocupada e acostumada a orientar alunos que já estavam em um nível mais avançado de pesquisa, como os alunos de pós-graduação. Por isso, muita coisa que aprendi foi na tentativa e no erro, levando muita bronca, e persistindo na melhoria! (rs)

Então, para facilitar a jornada de quem está começando, resolvi escrever um passo a passo de como encontrar uma ideia de tema para a pesquisa, sem depender do seu(sua) orientador(a). Isso também vale para as pessoas que nunca fizeram uma iniciação científica ou TCC e estão começando a jornada diretamente no mestrado ou no doutorado. Embora, para quem já busca um doutorado, seja esperado que essas dicas sejam triviais, elas podem ser úteis para quem não tem ideia do tema a pesquisar quando está mudando de área de atuação da sua formação anterior. Por exemplo: um engenheiro que decidiu mudar para a área de Educação.

Por isso, vou separar essas dicas em 3 passos:

  1. Comece pesquisando pela grande área, área do conhecimento e subárea;
  2. Escolhendo uma especialidade dessa subárea;
  3. Fazer uma busca de trabalhos com os filtros de sua pesquisa.
  1. Comece pesquisando pela grande área, área do conhecimento e subárea.

As principais subdivisões de grandes áreas, área do conhecimento e subárea são fornecidas pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) que usam como parâmetro para avaliar os programas de pós-graduação no país. Para chegar ao seu tema, o ideal é que você escolha ao menos a subárea de seu interesse.

Outro ponto interessante é que, caso for realizar uma pós-graduação, tente escolher o programa que contemple essa subárea de sua escolha. Se não encontrar exatamente nessa subárea, tente aproximar o tema na subárea mais próxima. Isso também é uma forma importante de ter mais chances de ter o seu projeto de pesquisa aprovado no momento da seleção. Muitas vezes, alguns projetos são reprovados não por sua falta de qualidade, mas por não existir disponibilidade de professores interessados em desenvolver uma pesquisa nessa subárea de sua escolha.

Segundo essa relação da CAPES, as grandes áreas e áreas do conhecimento estão subdivididas da seguinte forma:

Grandes áreas:Áreas do conhecimento
– Ciências Exatas e da Terra;– Matemática;- Probabilidade e estatística;- Ciência da Computação- Astronomia- Física- Química;- Geociências.
– Ciências Biológicas;– Biologia geral;- Morfologia;- Fisiologia;- Bioquímica;- Biofísica;- Farmacologia;- Imunologia;- Microbiologia;- Parasitologia;- Ecologia;- Oceanografia;- Botânica;- Zoologia.
– Engenharias;– Engenharia civil;- Engenharia sanitária;- Engenharia de transportes;- Engenharia de minas;- Engenharia de materiais e metalúrgica;- Engenharia química;- Engenharia nuclear;- Engenharia mecânica;- Engenharia de produção;- Engenharia naval e oceânica;- Engenharia aeroespacial;- Engenharia elétrica;- Engenharia biomédica.
– Ciências da Saúde;– Medicina;- Nutrição;- Odontologia;- Farmácia;- Enfermagem;- Saúde coletiva;- Educação Física;- Fonoaudiologia;- Fisioterapia e terapia ocupacional.
– Ciências Agrárias;– Agronomia;- Recursos florestais e engenharia florestal;- Engenharia agrícola;- Zootecnia;- Recursos pesqueiros e engenharia de pesca;- Medicina veterinária;- Ciência e tecnologia de alimentos.
– Ciências Sociais Aplicadas;– Direito;- Administração;- Turismo;- Economia;- Arquitetura e urbanismo;- Desenho industrial;- Planejamento urbano e regional;- Demografia;- Ciência da informação;- Museologia;- Serviço social.
– Ciências Humanas;– Filosofia;- Teologia;- Sociologia;- Antropologia;- Arqueologia;- Geografia;- História;- Psicologia;- Educação;- Ciência política.
– Linguística, Letras e Artes;– Linguística;- Letras;- Artes.
– Multidisciplinar.– Interdisciplinar;- Ensino;- Materiais;- Biotecnologia;- Ciências ambientais.

Para acessar a relação de subáreas de conhecimento, clique aqui e baixe o PDF que está disponível na página da CAPES.

  1. Escolhendo uma especialidade dessa subárea

Depois de escolher uma subárea, você vai precisar se aprofundar mais para chegar ao tema de sua pesquisa. E para conseguir filtrar alguns parâmetros, faça-se as seguintes perguntas:

– Qual o grupo que quero pesquisar? (seja de pessoas, animais, objetos, etc.);

– Qual o assunto em torno desse grupo quero pesquisar?

– Qual o contexto que quero pesquisar dentro desse grupo e assunto?

Dependendo da sua área, é possível que seja necessário chegar em níveis mais detalhados. Mas, acredito que essas três perguntas podem servir de ponto de partida para a sua pesquisa no acervo de periódicos da CAPES.

  1. Fazer uma busca de trabalhos com os filtros de sua pesquisa

Se você só domina a língua portuguesa, o acervo que eu indico para fazer a busca de trabalhos científicos é no acervo de periódicos da CAPES e no catálogo de teses e dissertações. Se você tiver facilidade para ler em língua inglesa, recomendo usar o DOAJ, que te dará mais opções de periódicos da sua área.

Caso você queira saber o passo a passo de como fazer a busca, explico no vídeo, que estará no ar a partir das 21h.

Lembrando que, no catálogo de teses e dissertações, os trabalhos não estão diretamente disponíveis para serem baixados. É necessário acessar o acervo da biblioteca da instituição onde o trabalho está publicado para baixá-lo. Outra forma mais ágil de fazer essa busca é pegar o título e fazer uma pesquisa no Google. Só verifique se o link do trabalho realmente vem da instituição correspondente, pois existem muitos sites que publicam materiais indevidamente que podem estar contaminados com vírus e malwares.

Uma coisa bastante interessante na busca do catálogo de teses e dissertações, é a possibilidade de filtrar os trabalhos por instituição, ano de defesa, orientadores e banca, além de já estar dividido também em grandes áreas, áreas do conhecimento e áreas de concentração (o mesmo que subáreas).

Acredito que com esses três passos, você já consiga ter um bom material para ser consultado para ter uma ideia de tema para o seu próximo projeto de pesquisa. 

Lembrando que, o tema é só um ponto de partida. Para virar um projeto, é necessário ainda formular a problemática e a hipótese que pretendo abordar em um post específico sobre o assunto.

Caso você esteja tendo dificuldades de como estruturar um projeto de pesquisa, já tenho um post falando sobre isso.

Espero que essas dicas tenham te ajudado a dar um norte para escolher o seu tema de pesquisa e deixe nos comentários outras dúvidas que não foram esclarecidas neste post!

Autor: Luzia Kikuchi

Uma entusiasta em neurociência, apaixonada por ensino-aprendizagem e uma eterna aprendiz de professora.

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